Acabo de chegar de um jantar de família, onde uma amiga dos meus pais de longa data levanta um assunto mais do que atual em qualquer discussão no Rio: Tropa de Elite. Não tendo visto o filme, ela pergunta minha opinião sobre a fama de violento e até mesmo fascista do filme.
Na minha visão, o filme retrata a guerra civil cotidiana da nossa cidade, na visão de um policial. Não acredito se tratar de nenhuma apologia à violência ou à tortura, mas sim um retrado dessa realidade. A tortura se faz justificável na cabeça daqueles que estão lutando uma guerra, que estão ali para matar ou morrer. Não acho que os fins justificam os meios e eu seria um delinquente se defendesse isso.
Mas aqueles que agora estão levantando a voz contra o filme e seus diretores se calam em relação a situação imediatamente anterior, onde traficantes dominam as comunidades e impoem suas leis a todos que ali habitam. Quem ousar desobedecer, terá seu julgamento, condenação e execução realizados sumariamente em menos de 10 segundos. Sim, é detestável que famílias inteiras fiquem submetidas a atrocidades praticadas por aqueles que deveriam estar defendendo a lei e ordem. Mas é igualmente detestável que essas mesmas famílias estejam diariamente a mercê de marginais que nada temem.
Sendo ambas indefensável, me arrisco a perguntar... mas qual situação é menos detestável? Aquela onde um bandido dita suas regras ditatoriais? Ou aquela onde um policial mata pra depois saber se era bandido e tortura pra obter informação? Convém pensarmos qual é o objetivo de ambos. O policial tenta acabar com o tráfico. E o bandido? Será que ele age pela comunidade? Pelo bem de seus vizinhos? Para que ele faz aquilo?
Em qual das 2 situações a população se sente mais segura?
Porque aqueles que tacham o filme de direitista levantam a voz quando se mostra as atrocidades da polícia, mas se calam com as barbaridades dos bandidos? Teriam eles mais legetimidade para faze-las do que os policiais? E de onde viria essa legetimidade? Da sua falta de oportunidade? Da sua condição social prejudicada? Será que o bandido realmente não teve oportunidade? Ou escolheu o caminho mais fácil mesmo tendo ciência de que estava transgredindo a lei? E o policial? Seria ele um sujeito abastado? Estaria ele em uma classe superior, lutando para manter o stablishment?
Ou será que agora podemos matar pois somos miseráveis? Que torturar para tentar acabar com o tráfico é indefensável enquanto matar para melhorar a condição social é justificável? Dado que ambos podem ser considerados pobres, a partir de quando a transgressão das regras são amenizadas em decorrência da situação financeira?
Quantos morrem diariamente em guerra de tráfico sem que nenhuma ONG se manifeste?
sábado, 29 de setembro de 2007
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