sábado, 29 de setembro de 2007

Acabo de chegar de um jantar de família, onde uma amiga dos meus pais de longa data levanta um assunto mais do que atual em qualquer discussão no Rio: Tropa de Elite. Não tendo visto o filme, ela pergunta minha opinião sobre a fama de violento e até mesmo fascista do filme.

Na minha visão, o filme retrata a guerra civil cotidiana da nossa cidade, na visão de um policial. Não acredito se tratar de nenhuma apologia à violência ou à tortura, mas sim um retrado dessa realidade. A tortura se faz justificável na cabeça daqueles que estão lutando uma guerra, que estão ali para matar ou morrer. Não acho que os fins justificam os meios e eu seria um delinquente se defendesse isso.

Mas aqueles que agora estão levantando a voz contra o filme e seus diretores se calam em relação a situação imediatamente anterior, onde traficantes dominam as comunidades e impoem suas leis a todos que ali habitam. Quem ousar desobedecer, terá seu julgamento, condenação e execução realizados sumariamente em menos de 10 segundos. Sim, é detestável que famílias inteiras fiquem submetidas a atrocidades praticadas por aqueles que deveriam estar defendendo a lei e ordem. Mas é igualmente detestável que essas mesmas famílias estejam diariamente a mercê de marginais que nada temem.

Sendo ambas indefensável, me arrisco a perguntar... mas qual situação é menos detestável? Aquela onde um bandido dita suas regras ditatoriais? Ou aquela onde um policial mata pra depois saber se era bandido e tortura pra obter informação? Convém pensarmos qual é o objetivo de ambos. O policial tenta acabar com o tráfico. E o bandido? Será que ele age pela comunidade? Pelo bem de seus vizinhos? Para que ele faz aquilo?

Em qual das 2 situações a população se sente mais segura?
Porque aqueles que tacham o filme de direitista levantam a voz quando se mostra as atrocidades da polícia, mas se calam com as barbaridades dos bandidos? Teriam eles mais legetimidade para faze-las do que os policiais? E de onde viria essa legetimidade? Da sua falta de oportunidade? Da sua condição social prejudicada? Será que o bandido realmente não teve oportunidade? Ou escolheu o caminho mais fácil mesmo tendo ciência de que estava transgredindo a lei? E o policial? Seria ele um sujeito abastado? Estaria ele em uma classe superior, lutando para manter o stablishment?

Ou será que agora podemos matar pois somos miseráveis? Que torturar para tentar acabar com o tráfico é indefensável enquanto matar para melhorar a condição social é justificável? Dado que ambos podem ser considerados pobres, a partir de quando a transgressão das regras são amenizadas em decorrência da situação financeira?

Quantos morrem diariamente em guerra de tráfico sem que nenhuma ONG se manifeste?